Diante das alarmantes estatísticas do AVC (Acidente Vascular Cerebral) – no Brasil, a cada cinco minutos, uma pessoa morre em razão do problema-, uma boa notícia foi divulgada nesta quarta-feira (10), pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, durante o Global Stroke Alliance, que acontece até sábado (13), em São Paulo: a incorporação no SUS, até o fim do ano, da Trombectomia Mecânica (TM), procedimento minimamente invasivo e que, em caso de AVC isquêmico grave pode desobstruir as artérias do cérebro em até 24 horas após o início dos sintomas. O AVC isquêmico é o tipo mais comum de AVC e corresponde 80% e 85% dos casos.
“Hoje o destino me reservou esse privilégio de estar junto com vocês para buscar formas mais eficientes de enfrentar as doenças cardiovasculares, que são a principal causa de óbito no mundo. E é com o Sistema Único de Saúde que nós vamos enfrentar esse problema. Até o final do ano, a Trombectomia estará incorporada definitivamente ao Sistema Único de Saúde do Brasil”, disse Queiroga.
A técnica, que aumenta em três vezes a chance de o paciente ter independência após o AVC, com sequelas reduzidas, havia sido aprovada em dezembro de 2021, pela Comissão Nacional de Incorporação de Novas Tecnologias no SUS (CONITEC).
Até então, a única terapia clínica disponível na rede pública era a trombólise, opção nem sempre eficiente para os casos mais graves. Somente quatro hospitais públicos no Brasil (em São Paulo, Espírito Santo, Santa Catarina e Ceará) oferecem a TM e, nesses casos, o tratamento é custeado ou pelo próprio hospital ou pela Secretaria estadual de Saúde. O tratamento custa de R$ 15 mil a R$ 20 mil.
“Selecionamos vinte hospitais que estão prontos (para oferecer a TM), que já foram avaliados e vamos capacitando outros para realmente termos uma cobertura maior. Tem que ser um hospital que tenha hemodinâmica, uma emergência 24 horas, uma tomografia, médicos treinados, UTI, então, nós já selecionamos os primeiros vinte hospitais e, agora, estamos em processo de avaliar outros nesse processo de certificação”, falou a Dra. Sheila Cristina Ouriques Martins, presidente da Rede Brasil AVC e que assumirá, em outubro, a presidência da World Stroke Organization (Organização Mundial de AVC).
Gravidade
Somente no mês de julho, o AVC matou 8.758 brasileiros, o equivalente a 11 óbitos por hora, segundo dados do Portal de Transparência dos Cartórios de Registro Civil do Brasil. No primeiro semestre deste ano, foram 56.320 vítimas fatais, número acima das mortes por infarto (52.665) e Covid-19 (48.865).
A cada minuto em que o AVC isquêmico não é tratado, a pessoa perde 1,9 milhão de neurônios, o que resulta em graves comprometimentos que podem deixar sequelas permanentes, como redução de movimentos, perda de memória e prejuízo à fala.
“O conhecimento sobre os sinais de alerta do AVC é tão importante quanto a disponibilidade de tratamento. Por isso, é uma alegria receber esse anúncio do ministro e reforçamos o trabalho que fazemos para a capacitação dos profissionais da saúde em todos os níveis desde a mais alta complexidade – como é o caso da Trombectomia, até a Atenção Primária de Saúde, que devem estar preparados para integrar a rede de prevenção e ser capaz de educar e motivar os pacientes e seus familiares para otimizar o cuidado integral do AVC”, ressaltou Dra. Sheila.
O procedimento
A Trombectomia Mecânica consiste na desobstrução da artéria cerebral realizada por um cateter que leva um dispositivo endovascular, um stent ou um sistema de aspiração, para remover o coágulo do vaso sanguíneo do cérebro. Estudos mostraram que, com o
procedimento, a taxa de recanalização na oclusão de grandes vasos chega a 77%, mais eficiente que o tratamento convencional de trombólise endovenosa, com 30%. A trombólise endovenosa, tratamento medicamentoso com uso de trombolítico, deve ser aplicado em até 4h30 após os primeiros sintomas.
Outro benefício da TM é que ele traz melhora à qualidade de vida do paciente, aumentando a sua capacidade funcional (cognitiva e motora) e dando maior independência no pós-AVC.
Estudos apontam que 46% dos pacientes que foram submetidos a essa nova técnica se mostraram independentes após três meses de tratamento, contra apenas 26,5% do grupo que recebeu a trombólise endovenosa. “A trombectomia mecânica reduz as taxas de mortalidade, o tempo de internação e dá mais chances para a boa recuperação no pós-AVC grave. É um procedimento seguro, eficaz, com o seu benefício demonstrado no SUS, e um grande avanço no tratamento dos pacientes de AVC isquêmico”, salientou Dra. Sheila.
No mundo
Em outros países, a trombectomia mecânica já é aprovada nos Estados Unidos, países da Europa, Canadá e Austrália, além de chancelada por diretrizes internacionais e sociedades médicas da área, além de ter eficácia e custo-benefício comprovados por nove estudos clínicos.
A técnica, inclusive, teve a viabilidade de implementação evidenciada em um país em desenvolvimento, por meio do Resilient, estudo colaborativo da Rede Nacional de Pesquisa em AVC, com financiamento do Ministério da Saúde, realizado em 12 hospitais públicos do país, e com 221 pacientes.
Liderado pela Dra. Sheila Martins e pelo Dr Raul Nogueira, o estudo teve como objetivo atestar a redução do grau de incapacidade (sequelas) e o custo-efetividade de tratamentos para retirada de coágulos do cérebro em quadros graves de AVC.
Sobre a Rede Brasil AVC
A Rede Brasil AVC é uma organização não governamental criada em 2008 com a finalidade de melhorar a assistência multidisciplinar ao paciente com AVC em todo o país. É formada por profissionais de diversas áreas que, unidos, lutam para diminuir o número de casos da doença, melhorar o atendimento pré-hospitalar e hospitalar ao paciente, melhorar a prevenção ao AVC, propiciar a reabilitação precoce e reintegração social. Mais informações no site https://redebrasilavc.org.br/.
Sobre a World Stroke Organization (Organização Mundial de AVC)
A World Stroke Organization (Organização Mundial do AVC) é o único órgão global voltado exclusivamente para o AVC. Com cerca de 3.000 membros individuais e 90 membros da sociedade em todas as regiões do mundo, representa mais de 55.000 especialistas em AVC em ambientes clínicos, de pesquisa e comunitários.
Mais informações em world-stroke.org.
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